12 de ago. de 2025

RESENHA DO LIVRO “ESTOU FARTO DO LIRISMO COMEDIDO”, DE RUAN VIEIRA


 Por: Matheus Kennedy

Ruan Vieira é um exímio bailarino das palavras. A poesia, sua sapatilha, lhe calça muito bem. “Estou farto do lirismo comedido”, publicado pela Mondru Editora, é um grito de basta à poesia que se preocupa mais com a forma do que com o conteúdo; à poesia que prioriza mais a métrica e a estética do que o sentimento. Reunindo diversos poemas, alguns deles, por meio da intertextualidade, dialogando com textos de autores como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa e Paulo Leminski, Ruan vai traçando um caminho poético que capta, com sensibilidade e habilidade, a poesia presente no mundo, no dia a dia, em cada momento experimentado.

O primeiro texto que inaugura o livro, intitulado “Poesia de Cada Dia” , é uma espécie de “testamento” do que a obra do jovem poeta sergipano propõe. Ruan defende a ideia de que a poesia, mais que uma arte, é um sentimento humano e, portanto, está presente em todos os ambientes e todas as pessoas são capazes de poetizar as suas vidas, quebrando a lógica da poesia como um exercício essencialmente acadêmico ou especializado. É nesse ínterim, que ele exalta a poesia livre das amarras da gramática e das regras que tornariam, aos moldes parnasianos, um poema belo e perfeito. “Fique com a Sintaxe da Gramática e me deixe com a Semântica da Poesia”, asseverou.

Os poemas-paródias de Ruan são resultados de uma genialidade única. “No meio do caminho, um passarinho”, recuperando a máxima drummondiana, é um hino à liberdade (daí o passarinho), que a pedra de Drummond impossibilitaria. “Oração ao vento”, paródia da música “Oração ao tempo”, de Caetano Veloso, é um dos meus prediletos. Cantando ao vento, o poeta chama um amigo, pedindo sua suave ou intempestiva presença em sua vida e no movimento dos destinos. Li cantando.

Utilizando recursos como metáforas, ironias e versos livres, sob fortes influências literárias e musicais, nasce uma poesia que aborda questões existenciais, tais como a infância em “Aurora da minha vida”, a presença e importância da figura materna em “Minha mãe é uma semideusa”, a existência divina, à la Nietzsche, em “Paradoxo do divino”, a traição em “O beijo de Judas” e o patriotismo genuíno em “Canto a minha terra”.

Mas a poesia de Ruan não termina por aí. Há também alguns poemas com forte teor erótico, alguns mais explícitos que outros, como em “Sem nem sequer saber de poesia”, onde o eu lírico afirma que conhece (“viajou”) o corpo da amada, evidenciando que o ato sexual, ou melhor, transar, também é uma forma de se fazer poesia, a arte de cantar/fazer o amor.

São muitos os poemas que compõem a obra do jovem poeta sergipano e este texto não daria conta de destrinchar cada um deles. Selecionei aqueles que me tocaram mais fortemente. E encerro com o poema-paródia “Tecendo o texto”, uma canção do fazer poético, que reflete a clareza de Ruan, volto a dizer, como um bailarino das palavras, que sabe conduzir e construir, palavra por palavra, verso por verso, significados, sentimentos, verdades inauditas. “Uma palavra sozinha não tece um texto: ela precisará sempre de outras palavras”.

Precisaremos sempre, mais e mais, da poesia de Ruan, que só ele sabe tecer.

Nota biográfica: 

Matheus Kennedy é Graduado em Letras-Português pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Foi pesquisador-bolsista pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC - Fapesq/UEPB) durante 2021 a 2023. Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores (PPGFP/UEPB). 

Em 2020, foi um dos fundadores do Debate na Mesa, permanecendo até hoje na equipe.


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24 de jul. de 2025

CUIDADO COM A REGÊNCIA DO VERBO

A professora de português vivia dando nota baixa nas redações que aluna escrevia. O pai, um escritor consagrado, resolve dar uma ajudinha à filha para evitar que ela repita o ano. 

Segue crônica de Carlos Heitor Cony, publicada no longínquo 30 de outubro de 1998 no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo.

O PÔR-DO-SOL DA FREIRA

O Premiado no Brasil e no estrangeiro, coberto de glórias literárias e sociais, ele chegou à sua casa e encontrou a filha em prantos. Dizia-se desgraçada, queria se matar. Contou o seu drama: estava ameaçada de levar bomba em português. Autora das piores redações de todo o ano letivo, a madre-professora dera a chance: ou fazia uma composição decente que redimisse os erros acumulados durante o ano, ou ficava sem média para os exames. E ela - que brilhara em matemática, que ganhara o prêmio de viagem a Mataripe pela melhor nota em geografia, que era autoridade em Renascença e em Guerras Púnicas - sentiu o gosto da bomba a caminho.

“Uma humilhação!”, berrou o pai no meio da sala. Um homem traduzido em copta, em servo-croata, editado pelo MacMillan, amigo do García Márquez e do Saramago, patrono de escolas, nome de biblioteca no Recife, ter uma filha ameaçada de bomba em redação! Uma vergonha! A filha enxugou as lágrimas. Ferido no orgulho, o pai quebraria o galho. E, para começar, quase quebrou a sopeira que vinha da cozinha. “Suspendam o jantar! Vou fazer uma redação para minha filha! Quero ver o que essa freira de...” A filha gritou: “Papai!”. Mas ele estava possesso: “Quero ver o que essa freira de merda vai dizer da minha composição!”. Quando o pai atingia o palavrão, é que o negócio estava preto mesmo. E tão preto estava que todo mundo começou a pisar na ponta dos pés, em respeito à concentração do chefe da casa que se trancara no gabinete. Fera enjaulada, ele procurou se acalmar. No fundo da estante mantinha um pequeno bar. Desde que o médico o proibira de beber, ele levara para o sacrário da casa algumas bebidas, lá imperava sem dar satisfações a ninguém, principalmente à mulher, que o controlava com ferocidade.

Foi lá, escolheu o melhor uísque, que reservava para os grandes momentos, quando precisava enfrentar formidáveis desafios. Tomou uma talagada generosa e logo outra para consolidar. Limpou com energia a mesa, varejou papéis velhos, abriu o computador. Mas reconsiderou. Não, nada com o computador, muito frio e profissional. Foi nos guardados e apanhou a caneta de estimação, uma velha Parker rombuda, a mesma com que escrevera seu maior êxito de venda e crítica. Aquela pena fora elogiada por William Faulkner e por John dos Passos. Só então descobriu que não sabia sobre o que deveria escrever. Abriu a porta e berrou para a sala: “Qual é o tema?”.

“Pôr-do-sol, papai.” Antes de fechar a porta, descobriu que tinha mais um excelente motivo para esculhambar com a madre. Ora essa, o mundo mudara, o Muro de Berlim caíra, estávamos às portas do novo milênio, e vinha uma freira anacrônica impor à juventude dos anos 90 um tema daqueles, de tempos parnasianos e ultrapassados! Mesmo assim, não teve alternativa. Separou duas laudas do melhor papel de seu estoque, começou a primeira frase, mas estancou: na parte superior da lauda estava o seu nome, com o monograma da Academia de Letras a que pertencia. Procurou pelas gavetas, não encontrou outro tipo de papel, teve de gritar mais uma vez pela filha, que lhe passou um papel almaço pautado. Havia séculos não escrevia num troço daqueles. Alisou-o com alguma raiva, mas teve vontade de cheirá-lo. Sim, cheirava ainda como os papéis almaços de antigamente. Tudo aquilo lhe pareceu de bom agouro. Tacou um pôr-do-sol caprichadíssimo, pleno de tintas sangrentas no horizonte, pássaros fatigados que se recolhiam antes que as trevas chegassem. Esparramou suspiros de lagos plácidos que anoiteciam. Lembrou-se de todos os pores-do-sol que vira em velhas folhinhas de armazém, ressuscitou deslumbramentos de sua infância, inventou uma pradaria, depois uma charneca, ficou em dúvida: não sabia a diferença entre uma pradaria e uma charneca, na verdade, nem sabia ao certo o que era uma charneca.

Vencendo com destemor estas e outras dificuldades, em menos de meia hora as 30 linhas estavam cumpridas. Releu em voz alta para si mesmo, foi severo na revisão, substituiu um “profundamente” por um “essencialmente”, alterou a regência de um verbo e deu por limpa e acabada a prova. Chamou a filha: “Copie com sua letra agora! Vai ser barbada!”.

Os eventos da noite trouxeram esquecimento e paz sobre o assunto. Jantaram, viram um filme no novo canal da TV a cabo, a filha mais velha, recém-casada, apareceu na visita de todas as noites, finalmente foram dormir. O homem acordou ao meio-dia, com outro bode armado na sala de baixo. Sob as cobertas, distinguia o choro da filha e as vozes abafadas que a consolavam. Desceu de pijama mesmo. “O que está havendo nesta casa?”A filha correu para ele, os braços abertos: “Papai, a freira deu bomba no senhor! Quatro!”. E o pai, traduzido em servo-croata, editado pelo MacMillan, amigo do García Márquez e do Saramago, deu um uivo. Rolou pela escada, espumando contra a freira e contra o pôr-do-sol.


Texto extraido do blog do professor Ernani Terra, doutor em Língua Portuguesa pela PUC-SP, transferido por Cleno Vieira.

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Encontro com Ron Perlim no IFS/Campus Propriá

 📚✨ Encontro com Ron Perlim no IFS Campus Propriá!

No dia 17/07, tivemos o prazer de receber Ronaldo Pereira de Lima (Ron Perlim) — professor, escritor, presidente do Centro de Cultura Colegiense e do Centro de Cultura de Propriá, idealizador da FLIPRIÁ e autor de obras como “Laura” (Prêmio Alina Paim – 2010), “Viu o home?” e “Chico: o Velho”.

A reunião teve como pauta a contribuição do campus na IV edição da Feira Literária de Propriá (FLIPRIÁ), que acontecerá nos dias 26 e 27 de setembro, na sede da AABB. 📖
📌 Tema da edição 2025: Fake News, Desinformação e Redes Sociais.

Durante o encontro:
✅ Confirmamos a participação do professor Rômulo Gomes (História/IFS), também artista plástico, em um dos momentos da programação;
✅ Dialogamos sobre a trajetória da FLIPRIÁ e sua importância para a cultura e educação local;
✅ Reforçamos o apoio do IFS com logística, divulgação e presença dos nossos estudantes;
✅ Falamos sobre futuras parcerias em projetos culturais e educacionais;
✅ Apresentamos a biblioteca e a Cordelteca do campus, espaços abertos à comunidade;
✅ E recebemos, com carinho, dois exemplares do livro “Muritaê”, escrito por Ron Perlim e Nhenety Kariri-Xocó — obra que resgata memórias e tradições do povo Kariri-Xocó, contadas sob o olhar de um jovem curioso.

Participaram da reunião:
👨‍🏫 Prof. Luciano Mendonça (Diretor-Geral)
📚 Alexsandra Aragão (Bibliotecária)
👨‍🏫 Prof. Rômulo Gomes (História)
👨‍🏫 Vitor Vilas Bôas (COAE/Gerente de Ensino Substituto)

💬 Um momento de troca riquíssima sobre literatura, cultura e educação!

#IFSPropriá #FLIPRIÁ2025 #CulturaEmPropriá #Literatura #RonPerlim #FeiraLiterária #Muritaê #EducaçãoECultura #KaririXocó
 

Fonte: https://www.instagram.com/p/DMXsvWGgkMb/. Acesso em 24 de julho de 2025.

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18 de jul. de 2025

Presidente do CCP dar boas vindas a Oficina de Cordel


Abertura do Centro de Cultura de Propriá: Uma Boas-Vindas à Oficina

Olá a todos! Eu sou o presidente do Centro de Cultura de Propriá (CCP) e quero expressar minha gratidão pela presença de cada um de vocês. O Centro de Cultura Dear existe há quase 15 anos e nosso principal objetivo é justamente proporcionar o tipo de experiência que vocês estão vivenciando agora: aprender técnicas e processos de elaboração.


Agradecimentos Especiais

Gostaria de agradecer imensamente à professora Kelmen pela sua compreensão e dedicação.

Também estendo meus agradecimentos à Alaíde Costa, uma profissional renomada de Aracaju, que se dispôs a sair de casa e nos prestar este valioso serviço. Somos extremamente gratos por isso.


Participação e Aproveitamento

Além disso, quero mencionar que temos algumas prestações literárias em andamento, e alguns de vocês já tiveram a oportunidade de participar.

Por fim, espero de coração que vocês aproveitem ao máximo esta oficina. Tirem todo o proveito possível e absorvam o máximo de conhecimento que puderem.



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2 de jul. de 2025

Sarau Literário Virtual - Acala

Apresentação feita por Carla Emanuelle, Presidenta da ACALA e da UBE/Arapiraca: "Visto que Maria José Barbosa está perto de um grande amigo que sempre atualiza Sergipe em Alagoas e ele fica sempre escrevendo, filosofando, é um grande, posso dizer assim, avaliador literário, cronista, contista, uma inspiração. Fica à vontade, Ron Perlim, para que possa fazer a sua participação."


Ron Perlim

  • Saudação e Agradecimentos: "Olá pessoal, é um prazer estar com vocês aqui. Quero agradecer a Carla por ter organizado esse evento, é uma satisfação muito grande. Eu estou aqui me alegrando com os textos que foram narrados por todos vocês. E eu estava sozinho observando, não é, grande alegria que nossa Violeta Sebastiana, muito bom, está participando disso e quero agradecer a você, Carla, por tudo isso."
 
  • Sobre a Escrita: "Eu escrevi alguns textos, não sou poeta, minha prática é mais a prosa..."
 
  • Recitação (Poesia "Cai a Chuva"): "...mas eu vou recitar aqui um texto, digamos uma poesia, né, de um livro chamado 'Bafômetruxo', ele não foi publicado, né, não sei se dá pra você um texto aqui, o título é 'Cai a Chuva':  "Cai a chuva, eu não me lembro mais, vozes poucas, os sonhos desordenados e tudo cai, cai, cai e nada se machuca, mas não passa, os cálculos não caem, não caem no sorriso, não caem outro dia, só chuva cai, fome não cai, aceita não cai, a fome do homem, a fome do mercado."
     
  • Agradecimentos Finais: "Compartilhar com vocês e participar desses... legal, gostei muito Carla, está aqui, poder participar com vocês. 
 
  • Fala de Carla: Parabéns, meu amigo! Gratidão pela parceria! Está fazendo um movimento muito bom em prol do desenvolvimento literário regional. Como sempre, com a gente.
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